quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Quem paga a crise?

Não costumo falar de política, mas hoje tive uma imensa vontade de falar.

Estamos em véspera de greve nacional da função pública.

Não vou fazer greve, não que esteja de acordo com o Governo, mas porque acho que é um pouco prematuro.

No entanto, não posso deixar de estar solidário para quem a faz. Cada um é livre de fazer greve, aliás é por isso que estamos num Estado livre e democrático, ou não…

Todos sabemos que os tempos que vivemos não são propriamente de “vacas gordas”, há que fazer algumas restrições e alguns cortes.

Apesar de não ser da cor politica do Governo, concordei com algumas medidas tomadas e que tinham de ser feitas.

Como toda a gente sabe este ano não irá haver aumentos na função pública, o que até compreendo, face ao panorama económico-financeiro nacional e internacional.

Em certos países houve até reduções nos vencimentos dos funcionários públicos, incluindo os próprios governantes.

Eu até aceitaria que se fizesse o mesmo em Portugal, mas não vejo a “cambada” de snobes dos nossos governantes, qualquer que seja a cor política, a aceitarem uma descida nos seus salários.

Quem acaba por pagar toda e qualquer crise é o funcionário público, o coitado que tem as costas largas, que paga os impostos e atura os utentes subsidio dependentes a dizer que o Estado não toma conta deles.

Quem paga as crises é e será sempre a classe média. Ainda ontem via no noticiário que os barcos de luxo tiveram um grande crescimento e ainda no ano passado as vivendas de luxo eram as mais procuradas.

Por outro lado cada vez mais vemos pessoas a tirarem partido de subsídios sem fazerem nada para os merecer. A receberem o rendimento social de inserção (RSI) e a trabalhar por fora sem descontar, chegando ao fim do mês com saldo positivo no seu orçamento (o que eu já não sei o que isso é há muito tempo).

No que concerne aos nossos políticos, esses continuam a usufruir da plenitude das suas regalias.

Esta semana tenho recebido alguns emails de certas “denúncias” praticadas por alguns dos nossos ilustres do nosso panorama político.

Vejamos:

A nossa conhecida actriz Maria de Medeiros, agora deputada pelo Partido Socialista, pelo círculo de Lisboa, recebe € 528 diários de ajuda de custos, mais viagens pagas de ida e volta para Paris, onde mantém a sua residência habitual.

Um dia de ajuda de custos que ela recebe é mais do que o salário mínimo!!! Quantas famílias sobrevivem com menos do que a ajuda de custos da Maria de Medeiros???

Uma outra situação gritante é a filha do ex-Ministro António Monteiro, Maria Monteiro que, com apenas 28 anos, irá ocupar o lugar de adida de imprensa na Embaixada de Portugal em Londres, auferindo a módica quantia de € 9000.

Segundo o jornal Correio da Manhã, para que tal acontecesse o nosso Primeiro-Ministro e o da Finanças desbloquearam a título excepcional uma contratação excepcional de pessoal excepcional.

A título de curiosidade, o salário mensal da nossa nova adida de
imprensa da embaixada de Londres daria para pagar as progressões de
193 técnicos superiores de 2ª classe, de 290 Técnicos de 1ª classe ou
de 290 Assistentes Administrativos.

O mesmo salário daria para pagar os salários de, respectivamente, 7,
10 e 14 jovens como a Maria, das categorias acima mencionadas, que
poderiam muito bem despedir-se, por força de imperativos orçamentais.

Estes jovens sem berço, que ao contrário da Maria tiveram que
submeter-se a concurso, também ao contrário da Maria já estão
habituados a ganhar pouco e devem habituar-se a ser competitivos.

Também a título de exemplo, seriam necessários os descontos de IRS de
92 Portugueses com um salário de 500 Euros a descontarem à taxa de
20%.

Por fim temos o caso do Sr. Jorge Viegas Vasconcelos, que era Presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), que por sua e livre vontade se despediu porque o Governo não quis aumentar ainda mais a energia eléctrica.

Até aqui tudo bem, porém quando qualquer pessoa pede a demissão, sai da empresa por sua conta e risco, não lhe sendo devidos, pela entidade patronal, quaisquer reparos, subsídios ou outros quaisquer benefícios.

O que acontece é que o Sr. Jorge Viegas Vasconcelos vai para casa com um “vencimento/subsídio” ou lá o que lhe quiserem chamar de € 12.000, não não há engano doze mil euros, durante 2 anos, até que arranje novo emprego.

Isto deve-se ao facto dos estatutos da ERSE (que foram feitos e aprovados pela própria ERSE) no seu Art.º 28.º dizer que “os membros do conselho de administração estão sujeitos ao estatuto do gestor público em tudo o que não resultar desses estatutos”. Ou seja, para umas coisas são gestores públicos, para outra já não o são.

Desta forma, criou-se um esquema vantajoso para aqueles senhores, tudo isto com a bênção dos nossos governantes.

Em suma, até me podem baixar o meu vencimento, mas por favor acabem com estas aberrações para que não sejam sempre os mesmos a pagar a crise!