segunda-feira, maio 22, 2006

4.º Capítulo

Capítulo IV
A reunião
Lisboa, 15 de Setembro de 2005.

Quando saí do meu gabinete confesso que ia com algum nervosismo, afinal de contas não é todos os dias que podemos passar a presidente de uma grande sociedade.
Na sala de reuniões estavam todos os meus colegas de Direcção.
O Alves, o graxista; o Guimarães, o divorciado, bon vivant; o Ribeiro, o certinho e por último o velho sábio Gonçalves.
Tal como a Margarida tinha referido todos me aguardavam com alguma impaciência.
- Peço desculpa pelo o atraso... mas um telefonema... – disse eu muito atrapalhado.
- Vamos mas é ao que interessa. – disse o Gonçalves.
- Como todos sabeis esta reunião visa tão só nomear o novo presidente da sociedade. Foram muitos anos à frente desta empresa de consultadoria... muitos horas de dedicação para chegar onde chegamos...
Durante o longo discurso do Gonçalves a minha cabeça vagueava por outros locais, mais propriamente pelo Porto.
Ainda não tinha interiorizado o que me atormentava, se a agressão, se a relação do Gonçalo.
Tinha de tirar aquilo tudo a limpo.
Enquanto isso “voltei” à reunião.
- ... para terminar este meu longo discurso, quero vos apresentar o novo Presidente da sociedade... meus senhores... Eloan Allis!
A confusão instalou-se na sala.
- Gonçalves! Quem é esse Allis? – perguntava o Alves.
- Calma, meus senhores, já vão perceber. – disse o Gonçalves
- Margarida, mande entrar o Sr. Eloan Allis.
- Sabem que estamos na era a globalização e com Portugal inserido na U.E. não podemos, nem devemos, descurar a hipótese de expansão para além fronteiras.
Já há alguns tempo que andávamos a ser “assediados” por um grupo sueco que se quer implementar no nosso país.
Sabem que sempre fui contra este tipo de empreendimentos conjuntos, mas tenho de dar a mão palmatória. Para garantir um futuro promissor à sociedade e melhores perspectivas de carreira, para todos vós.
Face ao exposto, a Allis Consulting adquiriu 51% da sociedade, passando a ter o controlo sobre a sociedade.
Como tal, o novo Presidente é o Eloan Allis...
- Porque não nos disse nada? – dizia o Alves
Naquele instante entra na sala o Allis.
Tal como praticamente todos os nórdicos: alto, louro e tosco.
Num português quase perfeito, dirigiu-se a todos os presentes, individualmente, e tratando-nos pelo nome.
- Meus senhores, não pensem que venho ocupar os vossos lugares. As coisas vão ficar exactamente como estão. Apenas o que acontece é uma transformação jurídica. No entanto, devo referir que irei nomear um de vocês para Vice-Presidente, esse sim irá estar em permanente ligação com a empresa mãe em Estocolmo. – disse o Allis.
Surgiram alguns suspiros de alivio na sala que serviu para aliviar a tensão.
- O nome dessa pessoa é... Alves! – disse o Allis.
A admiração foi geral porque todos apontavam para mim como sendo o futuro Presidente.
- Mas gostaria de dizer uma coisa...
E dirigindo-se para mim disse o Allis:
- ... Filipe, penso que posso tratá-lo assim.
Com um ligeiro sorriso, confirmei a sua pretensão.
- Quero que venha comigo para Estocolmo ocupar lugar numa das nossas filiais. Foi uma das exigências do Gonçalves.
- Porque? – disse eu virando-me para o Gonçalves.
- Gonçalves, eu próprio explicarei ao Filipe! A Allis Consulting para além da expansão a nível europeu, tem como objectivo a formação do seu pessoal. A empresa mãe irá proporcionar-lhe a possibilidade de tirar o doutoramento na Karlstad University e adquirir alguma experiência.
- Mas eu tenho de pensar, não posso aceitar assim... há outras coisas em jogo... – dizia eu ainda confuso com toda esta situação.
- Claro caro Filipe, vamo-lhe dar uma semana para pensar. Aliás, vai ficar esta semana de férias para puder pensar nisto calmamente. – referiu o Allis.
- Obrigado, mas digo já que vai ser uma decisão muito difícil.
- Sabemos que sim Filipe, mas pensa bem, é uma oportunidade quase única. – afirmou o velho Gonçalves.
- Meus senhores, por ora é tudo, em breve irão receber nos vossos gabinetes os novos planos e estratégias a seguir. Até lá trabalhem como têm trabalhado até aqui. Obrigado pela vossa atenção. – disse o Allis, retirando-se da sala.
Todos os outros ficaram a felicitar o Alves, enquanto isso eu saí disparado em direcção ao meu gabinete.
Sentei-me virado para a janela a contemplar a vista sobre a cidade.
Fiquei assim uns 15 minutos até que peguei no telefone e chamei a Margarida.
- Sim, Dr. precisa de alguma de coisa?
- Sim Margarida, preciso de uma passagem imediatamente para o Porto e cancele a reunião de amanhã... aliás veja se há alguma coisa marcada até à próxima semana e desmarque tudo sine die.
- Mas Dr., e se perguntarem o motivo...
- Invente qualquer coisa, confio em si... concerteza arranjará um bom motivo.
- Ah! E nos próximos dias não quero ser importunado, tenho uma decisão muito séria a tomar.
- Concerteza, Sr. Dr... com licença.
Naquele mesmo dia segui para o Porto.