segunda-feira, fevereiro 27, 2006

The 4400





Este fim de semana estive a ver uma das que já é considerada, uma das melhores séries de TV de sempre.
Chama-se no seu título original "The 4400". Em português creio que se chama "Os escolhidos" e começou na semana passada na TVI.
Como não tenho muito tempo para ver TV, optei por ver em DVD e num só dia vi toda a 1ª série e fiquei completamente apaixonado e aguardo ancioso pela 2ª série.

www.the4400.com

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

2.º Capítulo

A pedido de várias famílias aqui vai o 2º Capítulo:

Capítulo II
GONÇALO

Gonçalo é um rapaz franzino de 23 anos com quem mantive uma relação de grande amizade e cumplicidade.
Quando o conheci ele tinha 21 e apesar da idade, o Gonçalo tinha uma grande maturidade.
Tinha perdido o pai ainda jovem, e cedo teve de ir trabalhar de forma a ajudar na subsistência da família.
Essa tinha sido uma experiência traumatizante para ele. Ver o pai morrer-lhe praticamente nos braços.
Eu sempre lhe dei apoio desde o início apesar da nossa diferença de idades.
Sempre me dei com pessoas de várias idades, mas confesso que ultimamente são os mais novos com quem me tenho relacionado mais, mas não tão novos.
Não sei se terá sido por ter nascido no seio de pessoas mais velhas. Talvez…
Bom, mas era do Gonçalo que eu estava a falar.
Naquele dia estava em vésperas de ir para Lisboa onde me encontrava a residir.
Eu nascera no Porto, junto à bela Foz, quer dizer, mais propriamente em Nevogilde, a que todos teimam em chamar de Foz.
Naquele casarão, herança de meus avós maternos, viviam os meus pais e as minhas irmãs.
Virado para o mar podíamos desfrutar de uma magnífica panorâmica para o atlântico.
Do meu quarto podia alcançar toda a costa, desde a Praia da Luz até às Praias de Matosinhos.
O Gonçalo tinha aparecido na minha vida de uma forma casual. Havia sido apresentado pela Isabel, que por sua vez era amiga da irmã dele.
Naquele dia tínhamos ido beber café ao Lusitano.
A empatia foi imediata. Afinal de contas tínhamos imensas coisa em comum. A música, o cinema, a maneira de estar e de pensar.
Foi giro, porque naquele dia quando começamos a falar parece que tudo em redor parou. Como se nada mais existisse.
Dê-mos por nós a rir às gargalhadas com a Isabel e a Joana a olharem para nós boquiabertas.
- Se soubesse que vocês se dariam assim tinha-vos apresentado mais cedo! – exclamou a Joana em tom irónico.
A Joana era uma rapariga adorável e dócil, mas tinha uma grande dose de possessão em relação a mim. Diziam os amigos que teria um fraquinho por mim. Nunca mo tinha dito, mas já tinha reparado alguns olhares, que quando cruzavam com os meus ela não sabia onde se meter.
Seriam ciúmes? Possessão? Não sei, mas também não é relevante. O meu amor pela Joana era de puramente platónico.
Após a quebra da conversa pelas nossas queridas amigas, estas quiseram ir para casa, pois a nossa tão boa disposição tinha-as deixado com sono.
Ficamos no carro a conversar junto ao Passeio Alegre.
Falamos imenso, eu estava admirado comigo próprio. Fazia algum tempo que ninguém me conseguia fazer falar tanto.
O Gonçalo tem o dom de encantar com a sua conversa. O seu olhar penetrava na minha mente como que tentasse saber o que ia no mais profundo do meu pensamento.
Aqueles olhos esverdeados mostravam a pureza e a sinceridade com que as frases fluíam dos seus grossos lábios.
Eram 5h e tal da manhã, que mais pareciam o início da noite, não fosse o dia começar a clarear.
- Temos de ir embora. Já é tarde! – disse eu.
O Gonçalo calou-se. Olhou-me, e beijou-me nos lábios.
- Mas… que estas a fazer?
A minha reacção foi de repúdio.
- Para! Que estás a fazer?
No fundo eu queria que ele me agarrasse outra vez, e me beijasse loucamente.
Mas porquê? Um homem? Não podia estar a acreditar que estava a sentir desejo por um homem. Ainda por cima um jovem que poderia ser meu sobrinho.
Liguei o carro e fui leva-lo a casa.
Naqueles longos 15 minutos imperou o silêncio.
- Viras aqui à esquerda e podes parar logo a seguir aquele jeep.
- Não te esqueças que eu já vim cá outras vezes. Trazer a tua irmã.
Ele esboçou um sorriso.
- Desculpa Filipe, desculpa se fiz alguma coisa de errado.
- Não faz mal…
- Só peço que não faças nenhum comentário com a minha irmã. Ok?
- Não sejas tonto, vai lá, falamos noutra altura.
Não conseguia tirar aquele beijo da cabeça. Tudo estava muito confuso para mim. Mas porque estava isso acontecer comigo? Será que sempre desejei isso? Não de maneira nenhuma poderia aceitar que alguma vez tivesse relações homossexuais.
Não, eu aceito a homossexualidade, mas eu!!! Não… não pode…
Tudo bem que estar solteiro na minha idade pode ser estranho, não tenho namorada há algum tempo, mas… ser “gay”
Naquela noite praticamente não me deitei. Fui começar o dia na esplanada do molhe a olhar para o mar…
Cheguei a casa praticamente à hora de almoço, a minha mãe já acordada preparava-se para me ir acordar.
- Já estás acordado? Foste à missa? – disse ela muito admirada.
- Não… estou a chegar, vou tomar um duche e desço já.
A minha mãe é uma senhora sofrida, pois o meu pai nunca lhe deu a atenção devida. Trocava-a, aliás como a família em geral, frequentemente pelo trabalho.
Das coisas que me lembro bem da minha mãe é uma foto, a preto e branco, devia ter uns vinte e poucos anos. Um primo meu chamava-a de Greta Garbo. Sim, sem dúvida parecia uma daquelas artistas de cinema de Hollywood dos anos 60.
E agora aos 74 anos está gasta, não porque tenha trabalhado, mas porque criou 6 filhos, praticamente sozinha.
Durante o almoço não proferi qualquer palavra. A minha irmã mais nova, a Sofia, viu que algo se passava, até porque normalmente me estava sempre a meter com ela.
- Estás bem Filipe? Estás muito calado hoje?
- Não, não é nada… deve ser porque tenho de ir embora hoje.
- A que horas tens o avião? – perguntou a minha mãe
- Ainda não sei, tenho de ver, foi a empresa que fez a reserva e não estou certo da hora. Penso que será por volta das 19h.
Levantei-me da mesa e dirigi-me ao meu quarto.
Deitei-me em cima da cama com o telemóvel na mão.
Tudo o que me apetecia era ligar-lhe e perguntar-lhe porquê?
Comecei a digitar o número dele… do outro lado ouviu-se:
“O número que marcou não está disponível”
- Ainda deve estar a dormir. – disse eu alto
Por breves instantes adormeci acordando com o toque do telemóvel. Não cheguei a tempo, desligaram.
O meu coração estava acelerado. Seria porque tinha acordado sobressaltado ou porque seria ele que me tinha ligado?
Estava com medo. Mas medo de que?
- É um telemóvel! E se for ele? Vai-te beijar pelo telefone? – pensava eu.
Peguei no telemóvel e fui ver o registo. Era ele, fiquei mais uma vez sem saber o que fazer.
De repente o telemóvel toca outra vez, era ele. Rejeitei a chamada mas não resisti e liguei-lhe.
- ‘Tou Gonçalo, sou eu o Filipe.
- Olá tudo bem Filipe? Dormiste bem?
- Bem, não consegui dormir, estava agora a descansar um pouco quando tocou o telemóvel.
- Tinhas tentado ligar? Estava a almoçar e por habito desligo ao telemóvel as refeições.
- Fazes bem, também devia fazer isso. Liguei porque preciso de falar contigo… sobre o que se passou ontem… hoje…
- Er… desculpa, eu sei que não deveria ter feito isso…
- Não peças, eu é que não deveria ter reagido da forma que reagi, sou um parvo. Quando achas que nos poderíamos encontrar?
- Hoje não sei se vai dar, tenho um trabalho de grupo com os meus colegas da faculdade, sabes como é…
- Claro, primeiro os estudos, eu também já passei por isso. – risos
- Mas amanhã ao fim da tarde por mim na boa.
- Pois, só que esta semana tenho de ir para Lisboa, sabes que passo grande parte do meu tempo por lá.
Houve uns segundos de silêncio, tendo ele com o seu ar de jovem despreocupado dito:
- Não faz mal, um dia destes faço-te uma visita em Lisboa. – risos
- Sim, quem sabe… um dia… mas agora tenho de ir, a minha irmã deve estar à minha espera para me levar ao aeroporto. Um abraço e até breve.
Estivemos cerca de 2 semanas sem nos falarmos e nos vermos, mas aquele beijo e aquela madrugada nunca me tinham saído da cabeça.
Era quinta-feira, e estava eu no aeroporto de Lisboa à espera da chamada para embarque, e me lembrei de lhe ligar.
- Gonçalo? Sou o Filipe Motta. Lembras-te de mim, o amigo da Isabel.
- Claro que me lembro. Achas que me ia esquecer de ti? Estás no Porto?
- Estou no aeroporto, vou hoje para aí.
- Sério? Gostava de estar contigo? Vais ao Lusitano?
- Ainda não sei, tive uma semana cansativa no escritório se conseguir aguentar até à noite talvez vá, mas não prometo.
- Claro que vais, nem que eu te vá buscar a casa e te arraste até lá… - risos
- “Senhores passageiros, o voo TAP4857 com destino ao Porto, é favor de se dirigem à porta número 6” – começou-se a ouvir no sistema sonoro do aeroporto.
- Tenho de desligar, estão a fazer a chamada, depois ligo-te.
Naquela quinta-feira acabamos por não nos encontrar, nem eu lhe liguei.
No Sábado encontramo-nos os 4 no Lusitano, o café/bar mais fashion do Porto.
Aproveitado de uma antiga loja o Lusitano tinha sido aproveitado e remodelado para café/bar. Um espaço alternativo, para gente… digamos… alternativa com bom gosto e com alguma cultura.
Na entrada dois enormes candelabros pretos com as velas acesas faziam a honra da casa, onde se encontrava a minha amiga Cristina, sempre com a sua pose, no alto dos seus 1,90m.
Passando uns enormes cortinados de veludo carmim, entravamos a primeira sala. Algumas mesas de estilo e uns sofás também em tom carmim. Do lado direito uma pequena loja onde se podem comprar pequenos adornos e roupa de novos designers.
Ao centro encontra-se o bar, todo ele em madeira trabalhada e imitar o antigo, de forma a condizer com a restante decoração.
O próprio bar fazia a ponte da primeira sala para a pista.
Por fim ao fundo havia uma espécie de retiro onde tinha uns sofás onde eu gostava de ficar a conversar e a beber a minha bebida contemplando toda a movimentação.
E ali foi onde nos reencontramos pela segunda vez.
Eu tinha chegado primeiro, em seguida a Isabel e por fim a Joana com o Gonçalo.
Confesso que fiquei nervoso quando o vi entrar, não sabia como haveria de reagir, mas as coisas aconteceram normalmente.
Mais uma vez ficamos horas a fio a falar sem que déssemos conta do que nos rodeava.
- Querem ir ao Act? – perguntou a Isabel
- Não sei, confesso que não me estava a apetecer muito. – disse-lhe eu.
- E tu Gonçalo? Ou vais ficar outra vez na conversa com o “cota”?
- Não era mal pensado, sempre ficava mais barato. – risos
- Vai lá com elas, eu preciso de descansar, sabes que a idade já não perdoa. Porque não vamos ao cinema amanhã? Conversamos depois mais um pouco.
- Ok, então fico à espera que me ligues.
Assim foi, no dia seguinte liguei-lhe e fomos ao cinema. Fomos ver um filme espanhol. Mar adentro, assim se chamava.
Um filme marcante sobre a eutanásia. A angustia de um galego que se encontrava acamado e que estava dependente de tudo e de todos.
A única forma que tinha de “escapar” a toda aquela prisão era em sonhos.
Recordo-mo perfeitamente se vê ele a levantar-se da cama e a saltar da janela ao som da minha ária preferida de Turandot, Nessum Dorma.
Fiquei arrepiado, e a partir daquele dia ficou a ser a nossa música.
Ele não conhecia a ópera, alias ele de música clássica não conhecia praticamente nada.
Não resisti e ofereci-lhe passados uns dias um DVD da ópera interpretado pela Ópera de Milano e pelo grande Luciano Pavarotti no papel de Calef.
Assim se passaram alguns meses e o nosso primeiro beijo não passou disso… um primeiro beijo.